sábado, 30 de junho de 2012

Heartless


Quando perdemos alguém sofremos um blackout. Nada nos passa aos olhos, não há luz pra guiar, não há pássaro com cantiga linda o suficiente para fazer nosso coração se aquietar, não há piada engraçada o bastante para arrancar um sorriso de nossos rostos. É a terceira guerra mundial que passa dentro de nós, um conflito quase que interminável entre a realidade e a nossa alma que não aceita que tal fato esteja mesmo se sucedendo.
Quisera eu fosse mais fácil do que andar de bicicleta. Ao menos, andar de bicicleta nos permite cair e mesmo machucado nos levantarmos e tentarmos outra vez. Esse ciclo se repete infinitas vezes. Significa que a cada novo dia temos uma segunda chance, que a cada hora que ralarmos o joelho faremos um curativo e iremos propor-nos a continuar naquela mesma estrada até não podermos mais. Não há segundas chances quando a morte chega, não há como implorar por sua alma devido a termos negócios inacabados no mundo do qual estarmos partindo. A morte é fácil, não se sente, não se vê. É rápida, na metade da piscadela de olho o último suspiro é dado.
Sofrimento, choro, dor, soluços, berros, gritos, lágrimas escorrendo pelas faces, pelos narizes e bocas, olhos inchados, olhos vermelhos. Tristeza, pânico, desespero, angústia. Dói, dói, dói, dói sem parar, a dor sufoca meus pulmões, penetra nas veias envenenadas pela aflição, atravessa meu cérebro e deixa mais um pouco de infelicidade, entra em nossa pela e faz dela reino de depressão, passa pelo coração e tenta arrancá-lo de nosso peito, mas ao contemplar o estado deplorável que ele se encontra segue direto sem paradas. O estrago já estava grande demais.
Deixar alguém partir quando sua hora é chegada é difícil. A fase da negação é a pior, você nega a si, nega aos outros, tenta se convencer de que aquilo não passa de um terrível pesadelo e logo você vai acordar, vale até beliscão. Mas não adianta, o jeito é deixar o pombo ir embora. Seu espírito sangra, seu coração de despedaça, sua mente desanda, sua cabeça estoura em enxaqueca, seu corpo reage a falta de nutrientes pedindo encarecidamente através do ruído de seu estômago por alimento, seu rosto pálido com aparência decadente, suas noites de insônia por não esquecer o incidente. É duro, doloroso e definhante, se você não foi escolhidos para se juntar a eles o que mais te resta se não seguir em frente?

Nenhum comentário:

Postar um comentário